Lidando com pais e mães na Odontopediatria

Trabalhar na odontopediatria não é fácil: nem sempre as crianças colaboram, muitas sentem medo ou se recusam a colaborar. Mas, existe um desafio ainda maior: os pais.

É natural e compreensível que os pais fiquem nervosos e apreensivos quando seu filho pequeno precisa de um procedimento odontológico. Não seria razoável pedir o contrário. Por isso, o dentista que eventualmente venha a fazer o atendimento de uma criança, precisa aprender a lidar também com as mamães ou papais) nervosos.

Antes de mais nada, não custa reforçar o que sempre aconselhamos, em qualquer atendimento: diálogo entre dentista e paciente (ou pais do paciente) é fundamental. O profissional precisa informar de forma clara e didática o que está acontecendo, como é o procedimento a ser realizado e tirar todas as dúvidas. Só então deve começar.

E, mesmo após começar, deve narrar o passo a passo do que está fazendo e deixar claro que o paciente (ou seus pais) está no controle, que a qualquer comando seu ele vai parar o procedimento e esclarecer o que for necessário. Dar controle ao paciente ajuda a reduzir o medo.

Também é importante assegurar aos pais que a criança não irá sentir dor, que todas as medidas possíveis para que ela não sofra serão asseguradas, explicando ainda que alguns procedimentos podem ser desconfortáveis e por isso assustam a criança e provocam reações e resistência, mas isso não é sinônimo de dor, dor e incômodo são duas coisas diferentes.

Mas, vamos supor que, apesar de todos os cuidados, a situação saiu do controle e você está diante de uma mãe ou um pai muito aborrecidos. É hora de ter o máximo de tato e respeito, não se brinca com quem está defendendo seu filho.

A primeira atitude é escutar tudo que a pessoa tem para dizer, sem qualquer cara de reprovação, tentando ser compreensivo. Muitas vezes a pessoa só precisa desabafar, depois de falar, ela vai se acalmando. Seja paciente e escute, de preferência, sem interromper. Não é um bom momento para discutir ou querer ter razão.

Não importa o que aconteça, não coloque a culpa na criança ou nos pais (mesmo que eles tenham contribuído para a situação). Uma pessoa com raiva não estará aberta para reconhecer os próprios erros e a tendência é que isso só a enfureça mais. Tudo isso pode ser dito depois, quando todos estiverem mais calmos.

Não invalide a reação dos pais. Você não sabe o que aconteceu naquele dia, naquela semana ou naquele mês com a pessoa. Você não pode mensurar se é um exagero ou não. Mantenha-se calmo, e, mesmo escutando palavras duras, não as pegue para si, pois provavelmente a pessoa está apenas extravasando seus medos, inseguranças ou problemas preexistentes. Não se deixe contaminar pelas emoções negativas do outro, esteja centrado e seja dono do seu emocional.

Depois que você sentir que a pessoa falou tudo que precisava, use um tom de voz calmo para responder. Não antagonize, não culpe, não julgue e não se justifique. Fale em um tom de voz baixo, calmo e seguro, pois, acredite, a tendência é que quem está discutindo com você baixe o tom também. Não entre no mérito de “culpa”, quem tem culpa ou nada parecido. Apenas assuma a responsabilidade pela resolução do problema que gerou a irritação.

Se for o caso, pergunte o que está incomodando e qual seria o desejo da pessoa para solucionar o problema. Se for uma questão técnica, ofereça soluções, de forma calma e afetuosa. Mostre que vocês estão no mesmo barco, ambos querendo o melhor para a criança, ambos querendo solucionar o que quer que tenha causado tanta irritação.

Jamais desmereça nenhuma fala (“você está exagerando”). Jamais traga qualquer contexto negativo para a conversa. Lembre-se, quando você está frente a frente com uma pessoa que está momentaneamente descontrolada, você é a pessoa sã da conversa e, para que tudo termine bem, cabe a você uma condução pensando no melhor desfecho, não em ter razão ou em defender um ego ferido.

Não julgue, não impute culpa, não ataque. A postura deve ser sempre conciliadora, tentando trazer a pessoa para o seu lado, afinal, vocês querem o mesmo: o melhor para a criança. Sabemos que às vezes é difícil escutar algumas palavras/acusações rudes, mas, tenha em mente que elas não são um ataque como parecem, e sim um pedido de socorro, de pessoas que estão muito angustiadas pelo bem-estar de seus filhos.

Respire fundo e tenha compaixão pelo sofrimento daquela pessoa. Mesmo que você não concorde ou que não seja sua culpa, o sofrimento é real.

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